Friday, October 23, 2009

A quarta estação

Saí do aeroporto e podia ver minha respiração e a de todos em volta. Havia blocos de gelo pelo chão e no dia seguinte nevou sem parar. Tínhamos que ir de um prédio a outro no campus onde estávamos tendo o treinamento e, em menos de dez minutos a neve já tinha derretido pra dentro da minha bota, eu já não sentia direito as orelhas, os dedos, o nariz estava vermelho como um pimentão e os lábios ressecados.
A primeira vez que vi neve foi inesquecível. Estávamos andando em direção ao refeitório quando vi umas coisinhas minúsculas dançando e brilhando no ar. Durante a aula, eu não conseguia tiarar os olhos da janela, porque a neve não parava de cair e tudo estava ficando branco. Eu estava maravilhada. E assustada. Logo os caminhões vieram tirar a neve das ruas e estradas e a vida seguia normalmente, naquele frio anormal.
O frio dura muito tempo aqui. Teoricamente fevereiro é o último mês do inverno, que dá lugar à primavera. Mas só consegui abrir mão das jaquetas e casacos no fim de abril. Os dias ficaram malucos: chuva num instante e no outro o sol mais brilhante que já vi. As pessoas começaram a jardinar. Falando sério, nunca vi flores tão lindas, tão vivas! As árvores, antes mortas, sem nenhuma folhinha sequer, agora estavam cobertas de flores. E os carros amanheciam cobertos de uma coisa verde – que depois descobri ser pólen. E todo mundo parecia ter alergia, menos eu.
Em junho começamos a usar short, chinelo, filtro solar, ir às praias e piscinas. A alegria e animação era palpável. A temperatura subia um pouco, o sol dava o ar da graça e todo mundo já estava fora de casa, correndo, passeando com o cachorro, tomando sorvete ou lendo um livro no parque. Os fins de semana eram cheios de eventos ao ar livre, shows, feiras, festivais. Os dias eram longos, o sol nascia antes das 6 da manhã, com toda força, e o pôr do sol era às 8:30 da noite. Impressionante.
E enfim cheguei ao fim do ciclo: o outono, a tristeza antecipada pelo inverno. Mas é tão lindo! Árvores douradas, alaranjadas, vermelhas, amarelas... chão, carros, tudo coberto de folhas. Folhas, folhas e mais folhas! Chuva, ventos fortíssimos, temperaturas inacreditáveis e, acreditem se quiserem: neve. Hora de tirar as roupas do fundo das gavetas e do armário, hora de comprar mais luvas, cachecóis e meias. Hora de se preparar para mais de seis meses de frio. E compreender porque os americanos amam o (curto) verão.

(Ana Elisa)