Wednesday, August 17, 2011

La bellezza delle piccole cose...


Toscana



A preparação para a viagem foi longa: li, pesquisei e planejei o que pude. Mas quando chegou a hora de ir a ficha não tinha caído! Estava mais preocupada com a longa viagem de carro e com as crianças, mas eles lidaram muito bem com tudo: dormiram, brincaram, escutaram música, não reclamaram nem pediram pra ir ao banheiro o tempo todo – melhor que muitos adultos.
Meus hosts se revesaram ao volante e eu fui atrás com as crianças escutando música e lendo Fly Away Home. Paramos em algum lugar da Alemanha pra comer e vimos um arco-íris completo, lindo, até sombra tinha! Dormimos em um hotel na região montanhosa de Innsbruck, Áustria e nem preciso dizer que foi apaixonante, me senti no topo do mundo!
Ficamos num lugar chamado Colline San Biagio, que foi um mosteiro no século XIII e hoje é uma villa, uma espécie de hotel fazenda. Só a família do meu host ocupou o lugar inteiro! Éramos ao todo 15 pessoas. A casa fica no topo do monte e tem uma vista linda das cidadezinhas em volta. A paisagem da Toscana me lembra muito Minas Gerais: as serras e montes, a vegetação, as casas e as pessoas. Andar ao ar livre era uma experiência de sentidos: os cheiros acentuados das ervas, das flores e frutas, das refeições sendo preparadas em cada casa, do café... o sol ardendo na pele, os sinos das igrejas.
Os dias foram longos e preguiçosos e se resumiram a piscina, comida, sono. Em uma semana só saímos de lá um dia (chuvoso) e fomos a Lucca, que dizem ser a cidade mais bonita da Toscana, mas não consegui ver ou conceber que tipo de beleza (talvez por causa da chuva). Nós mesmos organizávamos as refeições e devo admitir que não perdemos pra nenhum hotel!

Florença



No sábado todos saíram cedo pra evitar o trânsito, mas um dos casais foi mais tarde e nos levou até o hostel em Florença. Isso foi perfeito, porque eu ainda não estava em modo viajante, não fazia ideia de como chegar lá! O hostel 7 Santi foi bom o suficiente – depois de várias experiências em hostels, aprendi a não esperar muito e a ter a mente aberta às vantagens. O quarto tinha 10 camas e estava lotado, mas era espaçoso e o pessoal era tranquilo. A primeira noite foi difícil, com a música alta vindo de outro quarto e pessoas chegando de madrugada, batendo nas portas e gritando. Não dormi bem. A localização era boa, fomos a pé a todos os lugares nos dois dias. Tudo bem, eu quase morri de tanto andar, mas é ótimo pra ver as praças, estátuas, igrejas, etc. Ficávamos um pouco perdidas e, de repente, dávamos de cara com algo inesperado e lindo.
Primeiro andamos até o rio Arno, cruzamos uma das pontes e subimos até a Piazzale Michelangelo, de onde se tem uma vista panorâmica maravilhosa de Florença. Andamos mais por lá, encontramos uma igrejinha onde dois casamentos estavam acontecendo (com direito a latinhas amarradas no carro dos recém-casados e tudo!)
Depois da visão panorâmica, foi impossível tirar fotos apresentáveis – as construções são enormes e as ruas estreitas demais, fora o tanto de gente amontoada nos mesmos lugares. Visitamos os pontos turísticos: Il Duomo – uma das maiores cúpulas do mundo, na Basílica di Santa Maria del Fiore; a Ponte Vecchio – a mais velha da cidade, cheia de joalherias; o Palazzo Pitti – não entramos pra ver os Jardins Boboli, mas também é bonito por fora; o Palazzo Vecchio – na Piazza della Signora, onde se encontram várias estátuas e réplicas (como o David de Michelângelo); a Galeria degli Uffizi etc, mas não entramos em nenhum museu ou galeria. Mais itens pra lista “Voltar com mais tempo e dinheiro!”.
Na semana anterior comi bastante pasta, antipasta (torradas com patê de presunto, fígado, pesto, etc) e salada (com mozzarella fresca italiana!), mas ainda não havia comido nenhuma pizza e estava sonhando com o momento. Também mal podia esperar pelo primeiro gelato. Porém o que aconteceu no primeiro dia foi o seguinte: quando a família foi embora, deixou um monte de comida e nós pegamos tudo o que pudemos, então nosso primeiro almoço em Florença foi mozzarela, salami e coca-cola, sentadas numa pracinha.
Mais tarde, quando sentimos que era “ice cream, you scream, everybody screams for ice cream-time”, entramos numa gelateria e, qual foi a minha surpresa em ver que tinham açaí! Não resisti e adiei o famoso sorvete italiano por uma boa tigela de açaí com banana e granola, gostinho de casa! Pra completar o gostinho de Brasil, Maria Gadú estava bombando nas rádios italianas com Shimbalaiê, escutei quase todos os dias.
No último dia estávamos num café quando um rapaz sentou sozinho na mesa ao lado. Ansunel ofereceu nosso menu, ele sentou com a gente e no fim das contas passamos o dia todo juntos. Sentamos no parque e ele tocou violão, sentamos na praça e observamos pessoas, jantamos e trocamos ideias sobre arte, blog, viagens, etc. Californiano de 23 anos, ator, em busca de respostas – como todos nós. E foi nesse jantar que comi minha primeira pizza, Napoli, com anchovas salgadas. Não foi dessa vez.

Roma



No dia seguinte encontramos a Dani e o Patrick e viajamos juntos no trem até Roma. Escolhemos o trem mais lento, porém mais barato. Tive que escolher entre economizar tempo ou dinheiro. A viagem foi longa, mas tranquila na primeira parte. Conversamos, rimos, comemos. Em Orte fizemos conexão pra Roma. Essa última hora de viagem foi: sentada nos degraus da porta do trem, morrendo de calor e tentando não inalar os odores desagradáveis do local.
Nosso hostel (Carlito’s Way) era bem próximo à estação Termini e nos recebeu com boas surpresas: apesar de termos reservado dormitório de seis camas, eu fiquei num quarto com três camas e a Ansunel num quarto privado!
Roma foi fascinante, frenética, quente e cansativa. No primeiro dia, como chegamos no meio da tarde, só fomos à Fontana di Trevi, tomamos sorvete, jogamos nossas moedas. Depois andamos meio sem rumo e vimos a Piazza Spagna – onde tiramos uma foto estilo “Onde está Wally” na escadaria lotada - a Piazza del Popolo e algumas igrejas.
Fizemos compras e encontramos bolo sem glúten para comemorar o aniversário da Ansunel!
A essa altura meus pés já estavam cheios de bolhas, tudo doía e queimei muito no sol, fiquei com marcas horríveis de camiseta. Mas alternei entre o tênis e o chinelo, bebia mais de dois litros de água por dia e ia pra cama cedo.
No segundo dia em Roma, fomos onde eu mais queria: ao Coliseu. Ao sair da estação de metrô lá estava ele: enorme, impressionante, cheio de história pra contar, desafiando o tempo. Tive um daqueles momentos “Não acredito que estou aqui!” Mas estava. Emocionada e boquiaberta. Lindo e grandioso por fora, super interessante por dentro, o Coliseu foi um dos lugares mais marcantes que já visitei. Andamos por lá um tempão, observando as estruturas e os objetos encontrados pelos arqueólogos. Minha imaginação correu solta – Onde os imperadores sentavam? Quem eram os gladiadores? Quem assistia às lutas e espetáculos? Que tipo de intrigas, fofocas e romances aconteciam lá? Será que essa parte caiu ou nunca terminaram? Quem realmente botou fogo em Roma? O Coliseu provavelmente vai durar mais do que muitas construções modernas, a não ser que algo dê errado na construção da nova linha  de metrô... Como ousam cavar túneis numa cidade como Roma? Preciso passar mais protetor solar.
Esse tipo de coisa me intriga muito. Vi objetos que sobreviveram ao tempo: estátuas, moedas, “fichas” de aposta, cerâmicas, ossos, colares, miçangas, etc. Com tudo isso é possível ter uma ideia do estilo de vida dos romanos antigos. Mas minha vontade real é a de ter uma máquina do tempo e, em cada lugar visitado, poder voltar gradativamente ao passado - cem anos, duzentos, quinhentos, mil, dois mil! E assim poder fazer o que mais gosto em passeios: observar as pessoas na rua. Assim como eles próprios faziam, tenho certeza, no Fórum Romano. O centro social, político e religioso de Roma, onde todos iam para ver e serem vistos.
Almoçamos (comi um canelone de queijo delicioso), fomos ao Palatino, nos separamos da Dani e do Patrick e fomos ao Vittoriano – um palácio branco, gigante e moderno (século XIX). A entrada era gratuita, então entramos pra ver a exposição. Havia um corredor inteiro sobre o Giuseppe Garibaldi e como ele lutou e ajudou em várias ocasiões, como no Brasil, onde conheceu a esposa. Nessa hora passaram dois travestis brasileiros reclamando que não havia nada sobre a Anita, nem uma foto!
Na Piazza Navona nos deparamos com um artista de rua e uma multidão considerável. A princípio ele estava engolindo um balão (daqueles de fazer animais) e achei repulsivo, mas mesmo assim ficamos para o próximo ato. Ele escolheu um voluntário espanhol para amarrá-lo numa camisa de força, da qual iria se livrar em três minutos. O mais engraçado foi o cara estar preso na camisa, dando instruções em inglês para o rapaz que não entendia e fazia tudo errado! No fim das contas, amarrado na camisa e enrolado com uma corrente, ele realmente se soltou em três minutos. Adoro artistas de rua. Na mesma praça estavam pintores, desenhistas, uma banda de senhores tocando músicas suaves. Queria ficar ali pra sempre.
Voltamos à Fontana de Trevi pra reencontrar a Maitê e corremos pra pegar o metrô, que parava de passar as 21h. Jantamos perto do hostel – Maitê e eu pizza, Ansunel batata.
No dia seguinte fomos ao Vaticano. Morrendo de calor, mas propriamente vestidas. Encaramos a fila para ver o interior da Basílica de São Pedro, mas desistimos do Museu, onde está a Capela Sistina. Muita fila e muito caro. Eu achava que o Vaticano fosse mais longe do centro de Roma, mas é pertinho e dá pra ir de metrô. É realmente muito pequeno e tive a sensação de que minhas expectativas não foram correspondidas.
Próximo ao Vaticano está o Castelo Sant’Angelo, que já foi mausoléu, moradia, forte e hoje é museu e tem uma área verde bem gostosa ao redor.
À noite fomos jantar na casa em que a Maitê estava hospedada, com o Fábio, host do Couchsurfing. Foi tudo uma delícia: a comida, a conversa, o sorvete, os drinks. Ótima última noite em Roma e começo de depressão de fim de viagem.

Veneza



No trem a caminho de Veneza conhecemos um rapaz indiano-americano viajando com a mãe. Conversamos e jogamos cartas, trocamos ideias e opiniões sobre a Itália, NYC e New Jersey.
Veneza é um charme realmente, mas não há muito para se ver ou visitar e fiquei feliz por ter sido a última cidade. Nós andávamos tranquilamente, meio perdidas e meio seguindo o fluxo de pessoas, tirando fotos, parando nas pontes para observar os barcos e gôndolas, sentando nas praças para tomar um sorvete. Finalmente comi uma pizza deliciosa, no restaurante de um italiano casado com brasileira. Ele veio conversar comigo quando viu meu pedido – Guaraná, que nem estava no menu, mas vi uma latinha na estante e perguntei ao garçon.
A última noite foi ótima: fomos ao Cassino de barco, ouvimos música ao vivo nos jardins e ganhamos champanhe e morangos. Realmente, Veneza é um charme! Na volta paramos num restaurante pra eu comer minha última pasta e a Ansunel ficou brincando com os placemats (aqueles papeis que colocam embaixo do prato, não consegui traduzir, hehe) - desenhando e escrevendo e pediu à garçonete pra nos deixar uma mensagem de despedida, que foi a coisa mais singela: "La bellezza delle piccole cose..."
Viva a linda Itália!








6 comments:

Maite Blancquaert said...

Adorei o post, Ana! A Itália é apaixonante!!! E eu tb ouvi Maria Gadu direto! hehehe

Beto Miranda said...

O peso da História (com H maiúsculo) nestes lugares...
E a força da globalização, açaí e Maria Gadu em Florença...
E depois da orgia gastronômica, quantos quilinhos a mais?

Fran Oliveira said...

Amei Ana! Pelo que você disse, até as pequenas cidades são encantadoras tbm!
Só me faz querer mais ainda que essa seja uma das minhas próximas viagens!
Que feliz por vc!
E eu estaria no céu comendo massas por 1 semana! Não tem coisa que eu goste mais na vida! ;)
Bjo!

Ana Elisa Miranda said...

Oi Ana, amei seu novo post... obrigada por compartilhar esses momentos. Viajei com suas palavras pela belíssima Itália....boa sorte em tudo, e agora já fico pensando "Onde será a próxima?" rsrsr, bj (Damáris, no Orkut)

Tathy said...

Amiga, há quanto tempo não nos falamos, hein?
Adorei tudo sobre sua viagem, vc escreve de uma maneira tão gostosa que nos faz sentir participantes de todos os momentos...
Super beijos, aproveite bastante e manda notícias de vez em quando rsrsrs...

Priscilla said...

Adoro passar por este blog e ler as aventuras da cosmopolita Ana! Com essa riqueza de detalhes, é a forma mais real de voltar aos lugares em que estive sem sair do lugar. Ao ler sua passagem pelo Vaticano, lembrei-me de um fato
cômico e constrangedor: entrando na Capela Sistina, a gente dá de cara com várias placas proibindo expressamente o uso de câmeras fotográficas. Pô, a gente paga caro para entrar lá e na parte mais incrível do Museu, eles fazem uma sacagem dessa! Não resisti! Após contemplar as obras primas de Michelângelo, sentei numa bancada que havia ao redor da Capela, coloquei a câmera no meu colo e liguei o modo filmadora. Virei-a, despistadamente,para a direita e esquerda por quase 1 minuto (com muito receio dos zeladores verem!). De repente, um deles me viu e fez um gesto pedindo para eu parar (ele foi até simpático, mas fiquei super envergonhada - detesto ser chamada atenção..rs). Guardei a máquina, fingi que nada havia acontecido, e enfim, missão cumprida!rsrs.. Ai ai, ainda vou presa um dia por tirar foto proibida! ;)