Eu havia passado a semana toda preocupada com o horário
do voo, porque estava em Knokke e demoraria umas duas horas pra chegar ao
aeroporto. Calculei tudo direitinho e me tranquilizei com o pensamento de que
se tudo desse certo, se o trem ou o ônibus não atrasassem eu chegaria a tempo para o check-in.
Pra começar o dia bati a porta do guarda-roupa
na testa, mas me recusei a interpretar aquilo como um mal sinal. Peguei o primeiro
trem da manhã em Knokke às 07:06h que teoricamente chegaria em Bruxelas às
08:33h e eu pegaria o ônibus para o aeroporto às 9h. O trem parou em Brugge,
como sempre, mas demorou mais que o normal. Quando resolvi sair e perguntar,
havia um problema no freio e estávamos atrasados 15 minutos! Essa é a minha
sorte... fui rezando e mentalizando o resto da viagem, chegamos na estação às
08:50h e corri para encontrar o ônibus (se eu perdesse o de 9h o próximo seria
só em 30 minutos). Corri de verdade, com mochila nas costas e tudo. Cheguei ao
ponto e o ônibus só sairia às 09:15h, mas o motorista disse que o trajeto leva
40 minutos e domingo de manhã ainda menos. Aí sim, relaxei. Já havia olhado o
mapa do aeroporto e sabia que era pequeno, que os guichês de check-in da
Ryanair são logo na porta e a segurança é logo depois. Chegaria antes das 10h
para meu voo das 10:50h.
Como Maitê havia me falado, a Ryanair sempre
atrasa, ou nunca fecha o portão 30 minutos antes do embarque como diz o cartão. Tanta
gente em pé, na fila esperando e demora, demora, depois muda o voo de portão e
embarcamos 5 minutos antes do horário de decolagem. Mas enfim eu estava a
caminho de Dublin!
Essa foi uma viagem completamente sem
planejamento. Queria ser surpreendida pela Irlanda e aproveitar a compania de
Vinícius. Encontrar alguém da sua cidade, da sua faculdade, na Europa não tem preço!
Chegando lá passei pela imigração, ganhei um
carimbo (eba!) e logo encontrei Vini na área de espera. Pegamos um ônibus e
fomos para o centro da cidade.
Logo de cara adorei o sotaque, que apesar de
ser difícil de entender às vezes, é bem interessante. Estava feliz em estar em
um lugar onde entendo a língua. Também fiquei fascinada pelo Gaélico, que se vê
nas placas, sinais e até se escuta em alguns lugares. Soube que é ensinado às
crianças nas escolas e achei fantástico a preservação das raízes do povo
irlandês.
Andamos um pouco pela rua, passamos por um
jardim lindo chamado Remembrance Garden, onde há uma fonte e uma piscina em
forma de cruz, vários monumentos e estátuas e o mais novo símbolo, o Spire, que
parece uma agulha gigante. Nessa avenida fiz minha primeira refeição irlandesa:
fish and chips, claro! Estava gostoso, apesar de não ter tempero nenhum, fica
bom com sal e limão. Nessa hora passou um mega desfile Hare Krishna, com carro
alegórico e tudo e o pessoal cantando.
Depois ele me mostrou mais do centro, alguns
lugares q eu já tinha visto por fotos, como o Poet’s Corner, que é um bar de
paredes verdes com fotos e citações de poetas famosos como o Bernard Shaw e o
Yeats.
A Trinity College é a faculdade mais
tradicional da Irlanda, fundada no século XVI e fica bem no centro de Dublin.
Passamos por lá rapidamente, tiramos fotos e continuamos o passeio. Vi a
estátua da Molly Malone, que possui várias lendas e histórias, uma delas diz
que ela era prostituta a noite e vendia peixes de dia. Há várias canções e
paródias sobre a Molly e dizem que tocar nos seios dela dá sorte, haha!
Vários artistas de rua se apresentavam durante
o dia – alguns muito bons, talentosos de verdade! Eu adoro arte de rua e sou
capaz de ficar horas assistindo, mas havia muita coisa pra se ver. Fomos ao
Stephen Green’s Park, onde havia uma exposição/feira de fotografias. Esse parque
é no caminho do hostel, então passei várias vezes por ele e às vezes sentávamos
um pouco curtindo a paz e a natureza.
À noite fomos aos famosos pubs na região do
Temple Bar e tomei minha primeira Guinness (um copo de quase meio litro!). É
escura, cremosa, adorei a textura e não é forte.
No dia seguinte fomos à Biblioteca da Trinity
College ver a exibição do Book of Kells – um manuscrito ilustrado do Novo
Testamento, em latin, feito por monges entre os séculos VIII e IX. Eles contam
a história de como e onde foi feito, mostram técnicas de escrita em pele de
ovelha e estilos de letras. E no final podem-se ver os livros. Porém o que mais
me impressionou foi a biblioteca. Pena que não pude tirar fotos lá dentro,
porque não consigo explicar como é linda e impressionante e muito menos a
sensação que tive lá dentro. Só posso dizer que me deu vontade de sentar e
ficar lá o dia inteiro.
Pegamos o trem e em mais ou menos 40 minutos
estávamos em Killiney, onde supostamente moram o Bono Vox e a Enya.
Independente dos famosos, o lugar é lindo, fica no litoral, caminhamos por ruas
cheias de árvores e flores, subindo a montanha, até chegar ao topo e ter uma
vista panorâmica maravilhosa. Estava frio, ventando forte e choveu um pouco,
mas a sensação lá de cima é inexplicável, a Irlanda realmente tem uma magia,
uma energia boa. A porta da casa do Bono é cheia de mensagens de fãs
(vândalos!) e quando Vini estava parado perto do portão pra eu tirar uma foto
alguém falou no interfone e nós fomos embora. Passamos o resto do dia pensando:
e se fosse o Bono, se ele estivesse de bobeira, a gente puxasse um papo e
acabássemos conhecendo ele? Nunca saberemos...
Também foi em Killiney que tomei a melhor sopa
de cogumelo da minha vida! Depois de subir por ruazinhas desertas e cheias de
curvas demos de cara com um restaurante (enviado por Deus na hora mais
propícia, em que eu não aguentava mais de fome hehe).
As igrejas são um espetáculo à parte e não
preciso nem comentar sobre a Saint Patrick’s Cathedral. Foi emocionante estar
no coração da fé católica irlandesa, com tanta história e tradição. Os museus
também tem seu lugar. Fui aos de entrada gratuita: Museu de História Natural,
National Galery of Ireland (há obras de Picasso e Van Gogh), exibição sobre o
poeta William Butler Yeats na biblioteca, passamos pelas casas do Oscar Wilde,
Francis Bacon e no final fui à Dublinia (exposição sobre os Vikings e as
origens de Dublin, baseada em escavações feitas na cidade).
Por fim, coisas que me chamaram a atenção foram
os souvenirs e as joias em estilo celta. Primeiro: nunca vi lembranças tão bem
feitas e baratas em nenhuma outra cidade, me deu vontade de comprar tudo! Os
trevos, as ovelhinhas, os duendes, as camisetas fazendo piada com o clima da
Irlanda. Segundo: as joias de prata com tema celta são simplesmente lindas!
Comprei um livro - Heroes, Gods and Monsters of Celtic Mythology e estou
adorando as estórias de força, lealdade e honra. Luck of the Irish!
6 comments:
Ana,
Apesar de tudo, conhecer a Irlanda deve ter sido fantástico. Que orgulho de você, hein?!
Ah... respondendo à sua pergunta lá do twitter, estou quase online - a ansiedade já está quase me matando. =)
Abs.
Tudo de melhor pra você por aí.
lol...Este pais e mesmo mistico, Foi um prazer "tentar" ser um guia Irish rsrsrs. Tenho certeza que seu texto vai ficar muito mais rico da proxima vez... Seja sempre bem vinda :)
Simplesmente fiquei sem palavras com esse texto, apenas imaginando como dever ser lindo a Irlanda.
Boa viagem e aguardo mais histórias.
Olá, Ana! Como vai?
Acredito que muito bem numa viagem dessas! haha
Tenho uma imensa vontade de conhecer Dublin, Galway e toda a Irlanda. Parece-me um país tão bonito, ou como você disse, com uma energia tão boa que é impossível não nos encantarmos.
Aproveite seu tempo com os leprechauns! E cuidado com as banshees! hahaha
Beijinhos,
Ana - Na Parede do Quarto
Conta mais? Coloca mais fotos? Só para atiçar as borboletas na minha barriga. A Irlanda é meu maior sonho. Legal ler tudo isso ;) Bjos
Concordo, Ana, encontrar alguém da sua cidade, da sua faculdade, não tem preço!
Fiquei com vontade de ir à Irlanda!!! Agora vc tem que me levar lá! ehehhe
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