Sempre que me perguntam por que escolhi morar
na Bélgica, respondo que na verdade a Bélgica me escolheu. Minha vontade de
morar na Europa, viajar mais e aprender outra língua me levou a ser Au Pair
novamente e conheci a família perfeita, que vive na Bélgica.
Estava tão certa do que queria que não hesitei
por muito tempo. Aceitei morar com eles, organizei toda a documentação, fiz as
malas, disse meus adeus e vim.
Vim sem saber o que esperar, sem expectativas
ou pré-conceitos. Passei duas semanas no litoral, observando, explorando e
aprendendo. Me adaptando à família e eles a mim. Tendo muitas dores de cabeça
por escutar holandês demais.
De volta à vila, me dei conta do lugar lindo
que moraria por um ano. Muito verde, silêncio, animais e... um castelo de
verdade! Comecei a fazer caminhadas no parque em volta do castelo. Até hoje mal
posso acreditar na minha sorte.
A Bélgica é dividida em duas partes: a
holandesa e a francesa (na verdade três, mas a parte alemã é tão pequena!). A
capital, Bruxelas, é bilíngue. Moro na parte holandesa, mas em meia hora estou
em Bruxelas escutando francês e várias outras línguas. Outra coisa que me
impressionou na capital é o número de imigrantes, principalmente africanos e
muçulmanos – mulheres usando véus, roupas típicas super coloridas, etc.
Como típica turista, logo visitei os monumentos
e símbolos da cidade – Atomium, Manneken Pis, Grand Place, Palácio Real, etc.
Aprendi a usar o metrô, a me localizar e a circular a pé. Fui a eventos e shows
no verão, vi o Steven Spielberg e o Arnaldo Antunes. Bruxelas começou a se
tornar familiar pra mim, mas nunca perco a sensação de insegurança que sinto ao
andar pelas ruas da cidade. Como várias capitais, há gente de todo lugar e
muitas dessas pessoas se comportam de um jeito estranho.
Fiz aulas de holandês e aprendi algumas coisas
com a família e os amigos. Às vezes entendo o contexto, mas desisti de querer
falar essa língua. Comecei minhas aulas de francês e estou evoluindo bastante.
Entendo bem, leio e arrisco falar um pouco e me viro bem!
Não dá pra falar de Bélgica sem falar das
cervejas, dos chocolates, dos waffles e das fritas! Primeiro: há uma lista
gigante de cervejas fabricadas aqui, de marcas conhecidas a pequenos
produtores, cervejas fracas e outras fortíssimas, cervejas tradicionais ou com
sabor de fruta. É o paraíso da cerveja!
Os chocolates são também deliciosos e há até
museu do chocolate. O hábito mais diferente e engordativo que aprendi foi comer
pão com Nutella no café da manhã. Todos os dias. Bom, tive que parar, porque senão...
A cada esquina há uma barraquinha de fritas,
que são vendidas em cones ou caixinhas de papel e acompanhadas de molhos,
principalmente maionese. Nas vendinhas de waffles eles são feitos na hora. Não
dá pra resistir ao aroma! Waffle com calda de chocolate, waffle com sorvete,
waffle com chantilly e frutas!
Este pequeno país no coração da Europa,
dividido, sem governo central, realmente conquista seu coração!
Das águas frias do litoral aos canais da linda
Brugge, de Flandres à Wallonia, da capital ao campo, das viagens de trem, dos
moinhos, dos castelos e igrejas antigos, do orvalho congelado pela manhã, dos
patos, ovelhas, pôneis, veados e pássaros, da chuva, do vento forte, dos
passeios de bicicleta e, mais que tudo, das amizades e da família, das inúmeras
risadas regadas a cerveja, dos filmes, dos jogos, das viagens e caminhadas, das
pessoas que abriram seus braços para me receber – vou sentir saudades.
2 comments:
Amei forma simple e ao mesmo tempo profunda na descrição das coisas e acontecimentos. Consegui me colocar na sua situação (tá bom, não é tão difícil assim pra mim... mas aposto que todos que leram concordam comigo nesse quesito :)
Parabéns, pelo talento como escritora e por ser abençoada com todas essas experiências.
Beijos
Excelente ideia Ana. Gostei da sua expressividade e leveza na descrição quase "Queirosiana", irei segui-la na sua caminhada e desejo-lhe alegria e sucesso !!!
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