Saturday, October 8, 2011

Doce Infância




            Eu não quero mudar de quarto. Não quero um quarto novo só meu. Quero dormir com a mamãe! O quarto novo é escuro e tem bicho debaixo da cama. Não consigo dormir sozinho no escuro com um bicho embaixo da minha cama! Por que o neném pode dormir com a mamãe e eu não?
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            “O horário comum é diferente do horário de verão. O sol acorda cedo. Chegou o horário de verão. No horário de verão nós temos que acordar mais cedo.”
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            Mamãe deixou eu dormir na camona dela essa noite, mas quando acordei eu estava na minha caminha... Aposto que foi o João Bobão que me pegou de lá (João Bobão é o bicho que mora embaixo da minha cama, por isso eu sempre vou depressa e dou um pulo em cima da cama pra ele não me puxar pelo pé. Mamãe diz que não tem bicho nenhum lá, mas à noite eu escuto ele fazendo barulho).
            Papai me levou pra um lugar chamado escola e me deixou sozinho lá. Tinha um monte de criança lá, mas eu queria ir brincar na casa do meu primo Guto. Ele me disse que agora eu vou ter que ir todo dia lá pra tal de escola. Não sei por que. Vou perder meus desenhos da TV. Mas eu não chorei, porque papai disse que meninos não choram. Então o neném deve ser menina...
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            “O carneirinho se chama Memé. Memé pula...pula...Um dia Memé estava pulando e caiu na tinta preta. Quando Memé chegou perto de Pedro, Pedro falou: De onde surgiu esse carneirinho preto? Sabe por que ele falou isso? Porque Memé era branquinho... branquinho... ”
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             O bebê é engraçado. Tem só dois dentinhos. Ontem ele mordeu minha mão e doeu muito. Eu ia morder ele também. Mas papai não deixou. O João Bobão agora é meu amigo e vai pra escola comigo. Lá é até legal porque a gente faz coisas interessantes, mas eu não gosto de ir pra lá todo dia não.
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           “É primavera. O dia está bonito. O céu azul e o sol a brilhar. Os pássaros cantam, as borboletas voam. As flores ficam bonitas. As árvores verdes e floridas. Abelhinhas voam pra lá e pra cá é a primavera que acabou de chegar.”

(Do livro "Qualquer Dia Desses", por Ana Elisa Miranda)

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